AVM Advogados participa de debate sobre violência no ambiente de trabalho promovido pelo SindBancários

08 de Outubro, 2024 Direito do Trabalho
AVM Advogados participa de debate sobre violência no ambiente de trabalho promovido pelo SindBancários

Palestra "Violências e Trabalho: O papel do Sindicato para um trabalho digno" contou com a presença de empregados da agência, dirigentes e delegados sindicais

O SindBancários realizou, na quarta-feira, 2 de outubro, no auditório do Badesul, a atividade “Violências e Trabalho: O papel do Sindicato para um trabalho digno”. Com a presença dos funcionários da agência de fomento, delegados e dirigentes sindicais, a iniciativa jogou luz no tema do assédio moral e sexual, violências que têm sido fortemente combatidas no cotidiano dos trabalhadores e trabalhadoras do ramo financeiro.

Os integrantes do Departamento de Saúde do SindBancários, Jaceia Netz, coordenadora do Grupo de Ação Solidária – GAS, e André Guerra, psicólogo da pasta, abordaram as diferentes nuances do assédio moral organizacional e apresentaram a estrutura de acolhimento do departamento, que está sempre aberto para acolher e auxiliar os trabalhadores e trabalhadoras que estejam passando por alguma situação de sofrimento ou abuso. Além do GAS, que se reúne todas as quartas-feiras na Casa dos Bancários, a Saúde conta com assistentes sociais e psicólogos para atendimento aos sindicalizados.

De acordo com André, é preciso diferenciar o assédio moral do assédio moral organizacional, que configura uma prática continuada e repetitiva, cujo processo de violência psicológica transcende a relação vítima-agressor, já que é a própria organização que propicia e estimula esta prática. “Assim, todos que estão no ambiente são impactados. O espaço sendo adoecedor e violento, porque gera danos, compromete não só o trabalho em si, mas a vida como um todo. Não é só a identidade profissional que se deteriora, mas a identidade pessoal. E quanto mais se perpetuar, maior vai ser a corrosão na vida das pessoas que ali estão”, esclareceu o psicólogo.

Identificar a violência sofrida é o primeiro passo

Ao lembrar da importância de que todos no ambiente de trabalho estejam alertas para os sinais de adoecimento e de qualquer violência vivida no local, André sublinhou que é preciso estimular os colegas a não serem coniventes com qualquer prática adoecedora. Uma das dificuldades citadas pelos funcionários do Badesul foi a identificação da violência, já que, às vezes, eles mesmos se questionam se as situações são, de fato, abusivas, ou se estão problematizando algo ou exagerando sem necessidade. Além disso, também existe a vergonha ou o medo de denunciar. “O trabalho precisa ser um espaço salutar e digno. Vocês não podem ir para o trabalho sentindo medo, vergonha, temores nem tensões exacerbadas. Se a dignidade estiver sendo ferida, há um abuso e, portanto, é preciso falar”, reforçou André.

Para ajudar na identificação das situações de violência no ambiente de trabalho, Jaceia exemplificou alguns casos que são praticados no contexto dos bancários e chegam ao departamento de Saúde. Ela lembrou que pode ser tanto um assédio escrachado, com um recado direto em cima da mesa, por exemplo, quanto gestos mais sutis, como preterir um colega quando se convida para situações coletivas, por exemplo. Jaceia se emocionou ao citar situações vividas no GAS, quando acontece uma tomada de consciência por parte dos trabalhadores que passam a enxergar seu papel no ambiente de trabalho. “Existe, às vezes, uma incapacidade de se perceber como um vetor do assédio moral, porque é uma prática banalizada pelo banco ou porque não se tem uma reflexão crítica sobre isso”, comentou.

Segundo ela, é comum que o próprio assediador não se dê conta de que está praticando o assédio, pois já faz parte da engrenagem organizacional. “Via de regra, além de adoecer a pessoa que está sendo violentada, este assediador também vai adoecer. E se bater à porta do Sindicato pedindo ajuda, vamos acolher”, afirmou.

Tudo Tem Limite

O presidente do Sindicato, Luciano Fetzner, falou da importância da prevenção nos casos de assédio moral e sexual e anunciou o relançamento da campanha Tudo Tem Limite, que denuncia a violência dos bancos. Para o dirigente, além do acolhimento e da intervenção, é fundamental o papel do Sindicato na prevenção e inibição das situações de assédio e violência.

“Um adesivo como esse nosso, por exemplo, estampado em agendas, canecas ou em camisetas, com mensagens contra a violência, pode fazer diferença. Conversas como essa nossa, entre outras ações para prevenir ou então para estancar e dar o recado, são importantes, porque sim, não é tão fácil de identificar essas violências organizacionais. Mas aí que entra o Tudo Tem Limite, porque nós mesmos sabemos qual é o nosso limite, e quando sentimos que chegamos perto dele, é preciso fazer alguma coisa, seja colar um adesivo, conversar com os colegas ou denunciar para o Sindicato”, observou Fetzner.

Denúncias têm levado à responsabilização de assediadores

A advogada Scheila Nery, da AVM Advogados Associados, assessoria jurídica do Sindicato, fez uma fala contundente sobre a importância da denúncia na resolução de casos de violência organizacional. Na análise de Scheila, que atua na área de assédio moral, sexual e violência contra a mulher, nos últimos anos têm se observado uma grande mudança na área jurídica. Até algum tempo, o assédio moral organizacional era visto como algo normalizado, onde a cobrança, entre gritos, era tida como normal.

“Sim, a gestão pode e deve ser feita de acordo com a hierarquia de cada cargo ou organograma, mas há um princípio fundamental que está previsto na nossa constituição e que, muitas vezes, os gestores ou a organização esquece, que é a dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho. Todo ser humano tem direito a que o trabalho que presta seja respeitado e que a dignidade dele como pessoa não seja desrespeitada por conta das tarefas que não conseguiu cumprir ou pela própria condição pessoal”, declarou a advogada, que reiterou que, no cotidiano bancário, a gestão é feita por pressão e com uma cobrança abusiva por metas. “Isso não é admissível, mas era normalizado”, complementou.

Entretanto, nos últimos anos, as novas gerações estão identificando o que é o assédio moral e o assédio sexual e estão denunciando. “Falar e denunciar tem um poder muito grande, porque faz com que a nossa jurisprudência se altere, faz com que o nosso judiciário tenha uma visão diferente a respeito disso. Antigamente, a gente dizia '‘não vai dar nada’', hoje em dia não é assim. Um funcionário que é assediado e comprova esse assédio, tem direito a pedir a rescisão direta do contrato por culpa da empresa, pode pedir a indenização contra a empresa por danos morais e pode fazer denúncia no Ministério Público do Trabalho”, informou Scheila.


Fonte e imagem: SindBancários

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